Parábola do bem e do mal

 

Era uma vez um Deus Criador. Ele tinha em Si a energia do Pai que cria e protege e a energia da Mãe que sustenta, ampara e nutre.
Do perfeito equilíbrio entre estas energia, Ele gerou seus filhos.
Ah! E Ele maravilhou-se com sua criação, pois seus filhos tinham, tal como Ele, o Infinito dentro de si.
Latente, vivia em cada um deles a essência da Fonte: o Dom da Sabedoria suprema, o Dom do Amor incondicional e o Dom da Criação.
Porém, o Deus Criador sabia seus filhos ainda imaturos, sabia que, como qualquer criança, era necessário mantê-los ocupados, mantê-los entretidos, mas de tal forma que pudessem ao mesmo tempo, aprender, crescer e maturar todas as suas potencialidades.
Então, para manter tudo em Equilíbrio, pensou numa solução:
Colocou todos os seus filhos numa bela praia e disse a cada um deles:
- Faz o mais belo castelo de areia que conseguires. Põe na tua criação toda tua alma, toda tua habilidade e singularidade. Não poupes esforços, esmera-te. Faz o teu melhor.
E assim, cheios de entusiasmo, os filhos de Deus fizeram seus castelos de areia. Cada um era o reflexo da alma do seu criador. Cada filho de Deus fez seu de acordo com seu próprio universo interior, todos os fizeram olhando para dentro, pois não havia nada fora que se parecesse com um castelo, apenas areia, céu e mar.
No final do dia, todos puderam constatar a maravilhosa diversidade da criação. Não havia dois castelos iguais e todos eram, em sua singularidade, magníficos.
Até à noite, todos permaneceram ali, suspensos num tempo de profunda contemplação, felizes, com o resultado da perfeita fusão dos três dons que seu Pai lhes tinha dado: Sabedoria, Amor e Criatividade.
Todos dormiram de coração preenchido.
Mas o plano do Deus criador tinha de ir além, pois o Tempo já existia e suas exigências precisavam ser atendidas.
Então, o Deus criador disse à chuva para cair. E ela caiu.
Na manhã seguinte, os filhos de Deus acordaram com a desolação das suas obras destruídas. O lamento foi geral.
E mais água correu, desta feita, dos olhos dos filhos de Deus.
Assim, nasceu o primeiro pesar.
Mais tarde, vertidas as lágrimas, fez-se Luz na mente e no coração de um dos filhos de Deus e ele compreendeu que podiam fazer novos castelos, podiam aperfeiçoar, inovar, reinventar, fazer diferente.
E assim, com entusiasmo renovado, os filhos de Deus reencontraram motivação para fazer um novo castelo. Tinham agora, um novo propósito a cumprir, a realizar.
E assim foi. Chegado o final do dia, mais uma vez se maravilharam com a beleza e diversidade de suas criações, mas, mais uma vez a chuva veio e levou com ela todas as construções. Contudo, de lição já aprendida pela experiência anterior, desta vez, os filhos de Deus não lamentaram, pois sabiam que aqueles castelos tinham já cumprido seu propósito e outros viriam no seu lugar, pois haveria sempre areia para fazer mais castelos e sempre mais chuva para levá-los.
E levou-os, todos os dias e todas as noites, durante muito e muito tempo, um eterno balancear entre o construir e o destruir. Ordem e Caos em perfeita comunhão. Durante eons, os filhos de Deus construiram, a chuva destruiu e eles foram crescendo, amadurecendo e aprendendo ao longo do processo a serem cada vez melhores, cada vez mais sábios na arte de criar, mais amorosos pelo desapego a que a chuva ensinava e mais habilidosos na execução da criação.
E assim nasceu o Bem.
O Deus Criador observava com satisfação o processo, pois o seu objetivo cumpria-se: Seu filhos aprendiam a unificar-se perante os polos. Seu plano decorria como pretendido: no sentido da evolução, no sentido da mestria. Tudo estava em ordem, tudo em equilíbrio.
Certo dia porém, aquele mesmo filho de Deus, aquele que Deus via como sendo mais maduro e precoce, superou-se em sua criação. Aperfeiçoou-se de tal forma, atingira tamanha mestria na execução, que ficou deslumbrado com o castelo que construíra. Tudo naquele castelo era perfeito. Por mais que tentasse encontrar algo para melhorar no dia seguinte, não encontrava. Parecia-lhe ter atingido a perfeição e isso levou-o a olhar para os lados e achou que os castelos de seus irmãos não eram tão belos e perfeitos quanto o seu.
O dele era especial, ele era especial!
Nesse momento uma ideia nova entrou pela primeira vez em sua mente:
- Quero preservar o meu castelo, pois ele é a mais belas das criações alguma vez realizada e eu tenho esse direito, pois o seu o criador.
E assim nasceu o orgulho.
Antes da chegada da noite, o filho de Deus tinha já pensado numa solução para preservar seu castelo. Construiu um coberto para evitar que a chuva o levasse. E assim foi. No dia seguinte, o castelo mantinha-se intacto, intocável. E no peito do filho de Deus cresceu um pouco mais aquela energia que ele ainda não conhecia muito bem, mas que o fazia sentir grande. E ele quis preservá-la. Para isso era preciso preservar o castelo.
O equilíbrio é o resultado de uma equação complexa, com variadíssimos fatores, por vezes aparentemente caóticos, mas que no final das contas conduzem a uma ordem perfeita. Quando um desses fatores é alterado, toda a equação muda e os resultados passam a ser outros.
E assim nasceu o Mal.
A quantidade de água vertida pela chuva era a estritamente necessária para o propósito que cumpria, nem mais uma gota, nem menos uma gota. Cada castelo recebia a quantidade necessária para desfazê-lo deixando, contudo a areia no ponto certo de dureza e humidade para que fosse trabalhada no dia seguinte.
Desta feita, a água que deveria ser canalizada para o castelo do orgulhoso filho de Deus escorreu para as periferias inundando a área dos castelos de seus irmãos.
Na manhã seguinte, a desolação e o pesar já esquecidos nos éons dos tempos voltaram aos corações dos filhos de Deus.
Os castelos tinham desaparecido como habitual, menos o do filho orgulhoso, mas no lugar deles estava uma poça de areia que impossibilitava a construção de novos castelos.
Pela primeira vez, os filhos de Deus, desolados, olharam para o futuro e não viram Luz, não tinham mais propósito ou objetivo.
E assim nasceu o desespero.
Pouco tardou para que olhassem para o castelo do irmão que permanecia intacto e compreendessem quem era o agente do desastre.
E uma nova energia encheu seus corações, desconhecida, mas forte, que os impelia a agir.
E assim nasceu a revolta.
Exigiram que o irmão retirasse a construção, mas o equilíbrio tinha sido perdido, a consistência da areia nunca mais fora a mesma, e os castelos passaram de belas construções geometricamente perfeitas a grosseiros amontoados de areia, disformes e sem harmonia.
E assim nasceu a doença e a miséria.
Contudo, aquela energia permanecia no coração do filho de Deus, o orgulho, e a essa juntava-se-lhe agora outra que o insuflava ainda mais, a revolta. E uma nova ideia entrou pela primeira vez em sua mente: irei para outra praia construir o meu castelo e lá eu serei o melhor criador entre os criadores. E disse ao seus desolados irmão: quem quiser que me siga. Criarei meu próprio reino desligado dos outros.
E serei o Rei.
E assim, pela primeira vez, o filho se afastou da Casa do Pai.
E até hoje, o Pai, Grande em benevolência, espera o regresso, pelo seu próprio pé, do seu amado Filho.
O seu filho pródigo!
6/6/2019

Comentários

Mensagens populares