A Queda

Partimos da ideia de uma Fonte Suprema da qual tudo nasce. Essa Fonte contida em si mesma, por um Mistério que habita para lá daquilo que é para nós inteligível, resolveu expandir-se. Essa expansão não foi, contudo, aleatória, ela seguiu o que podemos entender como um Plano, com a assinatura do seu autor impressa em tudo o que dali nasceu.

Assim, em fractal, se expandiu a Fonte e Universos foram criados.

Todos eles inicialmente unidos à Fonte Primeva, que através de um Ponto de Coesão Interno mantinha tudo em seu lugar, segundo a Ordem do Plano Original.

Se a anomalia que ocorreu faz parte do Plano ou se é uma anomalia efetiva, isso constitui outro Grande Mistério! Eu diria que sempre fez parte, mas, na verdade não sei! Só meu Coração diz que sim.

Bom, certo é que a influência da Ordem central que mantinha tudo em equilíbrio perdeu sua força em determinados quadrantes e o Caos encontrou espaço para crescer.

Antes disso, no movimento auto empreendido de expansão da Fonte Criadora Una, em primeiro lugar, deu-se a separação. Do Um se fez o dois. Mas os dois logo se reconheceram como duas faces do mesmo Corpo, por isso, de novo, se abraçaram e desse abraço nasceu o três.

Neste ponto do processo o Milagre tinha já acontecido. O Milagre da Vida, prerrogativa de Deus!

Uma só Fonte com três faces, todas partes do Mesmo. Uma Identidade Trina, onde reside o Grande Mistério.

E neste processo expansivo que caminha no sentido da individualização para retornar à constatação unificada do Todo, destas três faces nasceram, os Arquétipos Primordiais Sophia, Eva e Lilith, que em si reuniam os atributos da Fonte, como um Fogo de Vida, um Fogo Secreto, que se propunha  animar a Matéria-Prima. 

Assim o Fogo encontrou a Matéria: Sophia encontrou o Instrutor, Eva encontrou o Profeta e Lilith encontrou o Maçon.

Seis arquétipos Primordiais ocupavam seu lugar devido, numa harmonia e equilíbrios perfeitos. As forças atuavam na sua medida certa, por isso exageros ou detrimentos não existiam. Até que pelo Mistério já evocado os Arquétipos foram perturbados, o equilíbrio perdeu-se e os Anjos caíram.

Após a Queda, nasceu o que até aí não se conhecia em todos os Universos: nasceu o Mal. E em fractal também este se expandiu… como resultado do exagero ou detrimento de energias e forças que na sua essência eram sagradas, logo benevolentes.

Sobre a Queda, diz-se que Sophia terá sido responsável. 

A narrativa que corre na minha mente fala de Sophia na sua morada, o 13º Éon, lugar de um Tempo que transcende Kronos, e daí olhou para cima e avistou uma imensa Luz que irradiava da casa do Pai. Nesse instante, Sophia fascinou-se e caiu para infra-dimensões, iniciando assim, o Caminho de ascensão de volta ao Lar.

Na verdade, existe também a versão de que Sophia se quis igualar ao Pai, orgulhosamente se achou no direito de habitar sua Morada. Bem, creio que são só dois caminhos diferentes para substancializar o mesmo posicionamento: um afastamento, uma não identificação com o Pai.

O processo de fascinação é, efetivamente, resultado de uma não identificação, embora pareça o contrário. Fascinarmo-nos com algo é, na verdade, projetarmos determinadas características admiráveis aos nossos olhos em outra pessoa. É acreditarmos que essas características não estão em nós. Na sequência perdermos em absoluto o nosso poder pessoal, daí surge a vulnerabilidade ao efeito hipnótico da fascinação. Diferente de admiração, que nos permite ver no outro determinadas características dignas de maravilhamento, mas que nos permitem a identificação, que dita acreditarmos que, embora eventualmente não desenvolvida em nós no mesmo potencial, aquela é uma característica que reside em nós também e que podemos estimulá-la à sua melhor expressão.

Assim, a admiração inspira, a fascinação paralisa e torna quem cair na sua malha um escravo. 

De facto, fascinar-se com algo é expulsar esse algo de dentro de si. 

Fascinar-se com a Luz da morada do Pai é expulsar o Pai de dentro de si. É gerar a crença da separação efetiva, daí a queda.

De qualquer forma, independentemente do motivo, a queda aconteceu e ela é visível nos nossos dias em tudo o que deriva da ilusão da separação: conflitos, doença, guerra, destruição, sofrimento, etc… a prisão da perspetiva dualista e polarizada do mundo.

Pois a verdade é que tudo está ligado, nada efetivamente separado. Esse Campo Unificado que tudo conecta tende a uma Ordem pré-estabelecida, contudo para lá chegar, à Ordem, o Caos pode ser um meio necessário. Deste modo, a queda de Sophia, perturbou todos os Arquétipos aos quais ela estava ligada. Num efeito imediato, sua contraparte, o Instrutor, em sequência, Eva e o Profeta e Lilith e o Maçon.

Esta perturbação resultou na perda do equilíbrio, da equidade que era mantida coesa através do Centro unificador. Naturalmente, para nossa salvação, essa perda não é real. Também ela é uma ilusão. Contudo uma ilusão tremendamente convincente, que toca as duas faces daquilo que nós reconhecemos como realidade. E é nessa ilusão de separação que vivemos. Herdeiros de um desequilíbrio, de uma separação que nos faz acreditar que somos insuficientes, que nos falta algo, que há algum lugar onde chegar, que algo em nós está incompleto. 

Numa certa medida está, na mesma medida do tamanho da fatia de ilusão que decidimos engolir. Difícil? Não sei. 

É-nos pedido para ver, sendo cegos, falar sem usar palavras, ouvir no silêncio, ter sem possuir, amar libertando, ultrapassar toda dor que nos fecha o coração para senti-lo abrir de novo, ou seja, acreditar que para além da pequena caixa em que nos fechamos, há um campo vasto, aberto e infinito, onde o êxtase e a Glória da reunificação São.

É só ter coragem de sair da caixa.

Relativamente ao Arquétipos, eles representam atributos da Origem que se desequilibraram. Naturalmente, numa lógica micro/macrocosmos iremos verificar em nós esses mesmos desvios, que tenderão ao excesso ou detrimento do atributo. O diagnóstico do desvio será o ponto de partida para o reposicionamento do atributo subjacente ao Arquétipo, na sua medida certa, no seu devido lugar. Com efeitos efetivos na saúde integral de quem se propuser a essa alquimia.


in Manual de Terapia Alquímica, Mónica Guimarães

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