Quando tudo falhou e só nos resta gritar!

Todos já passamos por momentos críticos nas nossas vidas. Aquele momento que gera uma espécie de vácuo que resulta do facto de parecer que não há nada mais que possamos fazer para mudar a situação. Então aí, do abismo desse desespero, manifesta-se essa força em nós, que nos lembra que podemos sempre gritar.

Esse grito, que é na verdade um hino, que honra o direito e dever sagrados de não nos resignarmos com aquilo que não devia ser, nunca devia ser, que é contrário à nossa Humanidade.

Um Homem resignado é um Homem morto. Um Espírito cadavérico que deambula num corpo impulsionado por mecanismos vitais de mera sobrevivência.

O Homem que grita perante o que parece perdido, num manifesto da alma profunda, faz ecoar dentro de si, reverberando até ao coração de todos os Homens de boa vontade, uma não aceitação daquilo que é contrário à sua Natureza.

Desse grito, uma nova Esperança pode nascer.

Quando este grito encontra suas motivações no sofrimento alheio, toda uma nova dimensão surge, elevada por um atributo basilar da Humanidade: a compaixão.

Perder a capacidade de nos condoer com o sofrimento alheio é perder o que nos resta dessa Humanidade.

Num tempo em que o Político derrubou o Filósofo, as ações que movem as peças do xadrez mundial respondem a interesses que nunca são aqueles dos mais desprotegidos. Os resultados estão diariamente à vista em qualquer noticiário.

Mas quem são realmente os mais desprotegidos?

São aqueles que efetivamente não podem fazer nada, senão gritar: as crianças.

O que pode fazer um bébé quando tem fome senão gritar?

O que pode fazer uma criança quando tem medo, senão gritar?

Embaixadoras do melhor que ainda há em nós, as crianças deveriam ser preservadas de certas perversidades, mas não o são. Sabemos disso. Nunca o foram.

Todavia seria importante ver além e compreender que o que está em causa, na perda da vida de cada criança, é a perda da nossa própria Humanidade. E que o mundo que decorre daí é um mundo onde, na realidade, ninguém quer viver.

Para além da insanidade dos senhores da guerra com os quais eventualmente não nos identificaremos, devemos ter em conta a nossa postura perante os factos. Na verdade, a sociedade parece tomada por uma espécie de estado hipnótico, letárgico que roça a indiferença perante o horror. Não podemos assistir simplesmente como se de ficção se tratasse. Mas desde quando passou a ser assim? Desde quando passamos a interessarmo-nos apenas com as questões do nosso próprio quintalzinho? Passamos o dia ocupados, à noite abraçamos nossos filhos, seguros e bem nutridos, e esquecemo-nos das lágrimas que corriam no rosto daquela criança cuja luz se extinguia entre uma garfada e outra do nosso farto jantar.

Contudo, ainda há aqueles cujo Espírito se inquieta, mas não sabem o que fazer, pois acreditam que não está ao seu alcance.

Bem! Façam como as crianças quando sofrem: gritem. Gritem bem alto para serem ouvidos até aos confins do mundo. Gritem para que todos saibam: “Não sei que posso fazer, mas sei que não aceito, este mundo não é o mundo onde quero viver!”

Façam com que o eco do vosso lamento chegue aos ouvidos daqueles que precisam ouvir.

Que este seja, por um lado, um eco de Amor e Esperança, para aqueles que sofrem. Para que saibam, pelo menos, que não estão tão sós como lhes parece. Que lhes chegue um alento ao coração, que lhes dê força para que voltem a acreditar na bondade.

Por outro lado, que seja um eco de lucidez, que chegue à consciência daqueles que parecem não ter nenhuma.

Todos juntos, numa união fraterna, podemos buscar a criança ferida que há em todos nós e podemos sempre GRITAR, até sermos ouvidos.

Esta é só a minha forma de gritar... 

aprendi que os silêncios abrem espaço aos abismos!

Mónica Guimarães

Esta é a minha forma de gritar!

Comentários

Mensagens populares