É ok estar triste!

É ok estar triste!

Ontem dei por mim a dizer esta frase a uma pessoa que me ligou pedindo ajuda.

Generalizando e afastando-me deste caso em particular, a situação fez-me refletir sobre o facto de ser cada vez mais comum as pessoas acharem que têm um defeito qualquer, que estão mentalmente doentes, ou algo assim, quando se sentem mal, quando estão tristes, desanimadas e infelizes.

E, neste caso, não me refiro à questão evocada quando distinguimos infelicidade de insatisfação ou mesmo tristeza. Nem à questão superficial de que não podemos estar sempre com “a roda no ar”, eufóricos com a vida. Isso é óbvio, já sabemos.

É outro ponto, mais profundo, que quero tocar hoje.

Diria que há uma camada de fundo na vida das pessoas, uma espécie de plataforma, onde se sustentam as bases fundamentais da sua existência. São determinadas estruturas, pré-requisitos, diferentes de pessoa para pessoa, que são uma espécie de condição sine qua non para a felicidade. Sem estes elementos base é impraticável a felicidade!

Quando esta estrutura está assegurada, quando ela é uma realidade presente, a pessoa é feliz. Pode andar triste, frustrada, insatisfeita, desanimada, etc… mas quando vem a pergunta: és feliz? A resposta SIM surge inequívoca em seu coração e sua mente, pois sabe que apesar de tudo o que, eventualmente, está “fora do lugar”, aquilo que é fundamental e basilar para si está lá, e existe na verdade de seus dias. Logo, poderá andar ou não contente, mas é com certeza feliz.

Então qual é a questão evocada no título?

É certo que a maioria das pessoas compreende que nem sempre podemos estar contentes e alegres e que estar triste ou mais em baixo é perfeitamente normal. Contudo o que se tem verificado, a meu ver de forma crescente, é que cada vez mais pessoas se culpam por não estarem felizes. Não se permitem ser infelizes. É que cada vez menos as pessoas sabem ouvir-se e auscultar as suas reais necessidades, aquilo que para elas em particular é fundamental à sua felicidade. Aquilo que não pode faltar. E quando o fazem, são muitas vezes levadas a acreditar que isso é uma espécie de capricho. Sim, caprichos também existem, mas há que saber distingui-los de necessidades essenciais.

E o ponto mais grave é que são levadas a pensar que tem um problema qualquer por sentirem carência desse algo que para si é fundamental. Como se isso fosse uma espécie de fraqueza, numa espécie de dissociação da realidade e da verdadeira natureza do ser humano.

A título de exemplo, podemos tocar na questão da solidão. Nós somos animais sociais, feitos para nos relacionarmos, impelidos a partilhar a nossa vida e caminhada com outras pessoas. Nada mais natural. Contudo, não raras vezes, vejo pessoas que se sentem mal por não conseguirem ser felizes sozinhas.

Mas como???

O problema é que se “vende” por aí nas redes desta vida a ideia de que há um lugar especial algures dentro de nós que está acima de todas essas “necessidades menores” e que nesse lugar a felicidade suprema nos espera e esta não exige nada mais para além de nós mesmos.

Pois, só que não…

Enfim, sim, esse lugar existe, mas não é acessível saltando etapas. Para chegar lá, é preciso primeiro passar pelos estágios anteriores. Na verdade, aprendemos a amar verdadeiramente a nós mesmos, passando pelo estágio de ter aprendido a amar os outros. Há uma certa hierarquia na ordem da evolução, e o acesso a esse lugar de que se fala por aí implica ter já preenchido os espaços prévios de realização pessoal, para posteriormente chegar ao nível transpessoal da Alma.

Senão, é um pouco como exigir o nível de Amor Incondicional e Universal, quando ainda te debates com questões relacionadas com o amor pelo teu pai, mãe, irmãos, companheiros, filhos, amigos, etc…

Ama primeiro os teus, ama depois o mundo inteiro!

Então, vamos com calma! Se aquilo que para nós é fundamental à felicidade não é uma realidade em nossos dias, pois, é ok estar triste!

Faz parte, é tão essencial como o colo da mãe para uma criança.

Todavia, há aqui outra questão a considerar. É que a tristeza, estados depressivos e outros desequilíbrios, sendo naturais, podem derivar para quadros mais problemáticos e patológicos como podem, pelo contrário, serem, o estímulo necessário à mudança. Ou seja, ou nos atiram para abismos fundos e problemáticos ou nos impelem a novos voos.

Onde estará a chave para o caminho ascendente? Como voar partindo da dor?

A questão é obviamente complexa, e não querendo aqui cair numa simplificação redutora, vou apontar um fator, a meu ver, fundamental para a viragem do status quo depressivo.

Colocando de forma bem prática em 3 pontos:

Primeiro ponto: a pessoa tem de ter para si bem definidas quais as suas “necessidades fundamentais”.

Aquilo que é importante para sua felicidade. Isto será o resultado de um processo bem-sucedido de “ouvir a si mesmo” e de respeito por si.

Segundo ponto: compreender a naturalidade subjacente à sua tristeza.

“Pois se não estão presentes em minha vida as “condições essenciais” à minha felicidade é natural estar triste. Não há por isso nenhum defeito em mim. Só sou humano.”

Podemos tomar como exemplo a vontade de ter um relacionamento. Determinada pessoa considera que para ser feliz precisa de um relacionamento, precisa da partilha, da comunhão inerente a uma relação a dois, etc… Não sendo essa uma realidade presente na sua vida irá sentir-se eventualmente infeliz. Ok, natural. É importante não haver problematização excessiva da questão.

Terceiro ponto: a aceitação da realidade presente como algo que, apesar de comprometer a felicidade, não compromete a integridade do ser.

Há uma aceitação pacificada pelo respeito por si e pela sua carência.

“Sim, não estou feliz, porque me falta algo, mas não deixo de ser EU por isso, vivo, inteiro apesar da minha carência”.

Esse é o ponto fundamental que irá fazer com que essa pessoa siga pela vida fora sem cair nos abismos da depressão e do desespero. A negação de uma necessidade fundamental é o pior caminho a tomar. Ou pior ainda, o achar que essa necessidade é o problema, logo precisa ser combatida e anulada.

A aceitação, por outro lado, é o acreditar que esta é uma necessidade legítima, válida e fundamental, contudo, não compromete a sua integridade como ser, compromete a felicidade, sim, e isso é legitimo também.

A aceitação das nossas carências como algo intrínseco à natureza humana é reconhecermo-nos como seres com fragilidades, mas nem por isso menos dignos de amor.

Então, vamos lá. Respeito por si mesmo é amor por si mesmo.

Ninguém vai conseguir consolar uma criança que grita por colo, convencendo-a de que ela, na realidade, não precisa disso! É no mínimo absurdo.

Precisa sim! E quando não há colo, nada do que vier depois do vazio gerado pelo fosso dessa ausência se sustentará, pois faltará sempre o CHÃO firme e nutrido de uma carência atendida.

Portanto, saibam reconhecer vossas carências essenciais e saibam que enquanto não forem nutridas, é ok estar triste!

E se tiver chegado lá o entendimento, podem já estar a sentir um contentamento a emergir do centro dessa tristeza, anunciando que ela não irá durar para sempre e, mais importante, que ela é só um caminho, não um fim!

Um abraço quente e terno, especialmente a todos os que sofrem com a solidão neste Natal!

Mónica

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